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25 de Abril de 2024

O Estado fracassa quando a religião entra!

O século 20 viu crescer uma devoção militante nas principais religiões, chamada popularmente de fundamentalismo. "Alguns fundamentalistas não hesitam em fuzilar devotos numa mesquita ou matar médicos que fazem aborto. A maioria não é violenta, mas rejeita conquistas da modernidade, como a democracia, o pluralismo, a tolerância religiosa e a separação entre religião e Estado", diz a pesquisadora inglesa Karen Armstrong, autora do livro Em Nome de Deus.

Esse é um parágrafo do texto da Super Interessante, publicado em março de 2009, na 263ª Edição – que resume o “fracasso do Estado” (taí Hitler que não nos deixa mentir).

Um dos fatores que mais põem fim à Democracia ou a Liberdade de expressão é o ingresso da Religião no Estado, por outro lado a tentativa de sua retirada é dolorosa, massacrante e até mortal. Portanto, o melhor é mantê-la em seu devido lugar – longe da política!

Veja a publicação que foi citada acima, na íntegra (por Eduardo Szklarz via Super Interessante)

As 3 grandes religiões monoteístas - cristianismo, judaísmo e islamismo - pregam a paz, a tolerância, a compaixão e o amor ao próximo. Mesmo assim, elas deixaram suas marcas em guerras e banhos de sangue ao longo da história. Para alguns pesquisadores, uma explicação estaria na própria lógica do monoteísmo: se apenas o "meu" Deus é verdadeiro, os "outros" certamente são falsos - e seus seguidores, infiéis. "As religiões são diferentes, mas todas elas exigem a mesma exclusividade", diz o historiador britânico Christopher Catherwood, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

Foi assim com os judeus, os primeiros monoteístas, que reivindicaram uma aliança especial com Deus há 4 mil anos (leia mais na reportagem da pág. 22). Sua noção de "povo eleito" foi atacada por João Crisóstomo e outros patriarcas da Igreja Católica, que no século 4 qualificaram os seguidores do judaísmo de filhos do Diabo e inimigos da raça humana. Em 325, o 1º Concílio de Nicéia culpou-os pela morte de Jesus - uma acusação só retirada em 1965, no Concílio Vaticano 2º, e que insuflou 2 mil anos de injúrias e matanças. Durante a Inquisição, por exemplo, milhares de judeus foram parar na fogueira; outros tantos se converteram em massa à fé cristã, já que o batismo era a única chance de salvação.

No século 7, foi a vez de o islã tentar impor a primazia de seu Deus sobre os demais. Os exércitos de Maomé partiram da Arábia para invadir o Oriente Médio, o norte da África e a Espanha. "O objetivo da expansão não era tanto econômico ou político, como no imperialismo ocidental do século 19, mas a conquista em nome da fé, que eles acreditavam ser a verdadeira", diz Catherwood. Reconhecidos como "povos do livro", judeus e cristãos puderam manter sua fé desde que pagassem altos tributos - e, dependendo do governo em exercício, sofriam perseguições.

Assim, quando o papa Urbano 2º lançou as cruzadas para tentar recuperar a Terra Santa, em 1096, os espanhóis já vinham lutando contra os muçulmanos havia quase 400 anos. Urbano prometeu apagar para sempre os pecados de quem embarcasse na empreitada, que fracassou depois de transformar Jerusalém em um cemitério a céu aberto. "Cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas", escreveu Raymond de Aguiles, um dos cruzados.

Em 1215, o 4º Concílio de Latrão proibiu os judeus de exercer funções públicas e os obrigou a usar um distintivo de identificação sobre as roupas - medidas que seriam reeditadas no século 20 por Adolf Hitler e o regime nazista. É certo que o Holocausto foi executado no auge da sociedade moderna e racional. Mas a força motriz do genocídio - o antissemitismo - se nutriu dos mitos religiosos arraigados durante séculos na Europa.

Da mesma forma, só é possível entender os conflitos dos anos 90 nos Bálcãs tendo em conta as heranças religiosas do passado. No século 14, a região foi invadida pelos turcos-otomanos - o último império muçulmano, que determinava a identidade das pessoas pela religião a que pertenciam. A maioria delas pôde continuar acreditando no Deus do cristianismo, sem os mesmos direitos dos "fiéis". Muitos, no entanto, se converteram ao islamismo - e veio o problema. "Os atuais bósnios muçulmanos descendem daqueles que se converteram durante a conquista turca", diz Catherwood. "Para os sérvios, eles são traidores."

Cristãos ortodoxos, os sérvios até hoje celebram o ano de 1389 - quando Lazar, chefe das tropas sérvias, morreu enfrentando os muçulmanos e virou mártir. O líder sérvio Slobodan Milosevic invocou esse sacrifício em seus discursos de 1989, acendendo a chama dos confrontos que levariam a uma matança desenfreada.

Nas palavras do historiador americano Mark Juergensmeyer, da Universidade da Califórnia, a linguagem religiosa tem o poder de "trasladar o conflito humano a uma dimensão cósmica". Traduzindo: no diaadia, não matamos gente; mas, se Deus ordena, podemos. Nesse caso, a violência não seria um ato selvagem, mas o cumprimento da vontade divina.

Fundamentalismo

O século 20 viu crescer uma devoção militante nas principais religiões, chamada popularmente de fundamentalismo. "Alguns fundamentalistas não hesitam em fuzilar devotos numa mesquita ou matar médicos que fazem aborto. A maioria não é violenta, mas rejeita conquistas da modernidade, como a democracia, o pluralismo, a tolerância religiosa e a separação entre religião e Estado", diz a pesquisadora inglesa Karen Armstrong, autora do livro Em Nome de Deus.

O fracasso do Estado

Para esses radicais, nossa sociedade racional e pecadora tem levado a uma crise moral. "O fracasso da modernidade seria causado pela ausência de Deus", diz o sociólogo francês Jean-Louis Schlegel. Essa reação ocorre não apenas nas religiões monoteístas mas também no hinduísmo e no budismo.

Apesar das enormes diferenças entre os grupos fundamentalistas, eles geralmente buscam reconduzir sua religião ao caminho "puro e verdadeiro" de seus ancestrais. Por isso, os alvos principais são os seguidores moderados de sua própria crença. Foi o caso dos protestantes americanos que, no início do século 20, quiseram se distinguir dos protestantes liberais e se denominaram "fundamentalistas" - daí o nome. Eles queriam voltar aos fundamentos da tradição cristã, o que incluía interpretar a Bíblia da forma mais literal possível e parar de ensinar a Teoria da Evolução nas escolas - uma campanha que ainda divide os EUA.

Dentro do judaísmo foi criado o grupo ultraortodoxo Naturei Karta, que é contra a existência do moderno Estado de Israel. Para esse grupo, o regime israelense é herético porque sua ideologia fundadora - o sionismo - rejeitaria Deus e a Torá (o livro sagrado). Rabinos do Naturei Karta apoiam o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que prega a destruição de Israel.

Já o fundamentalismo islâmico vem do grupo Irmandade Muçulmana, fundado em 1928 no Egito. Para ele, o islã entrou em decadência ao adotar o modo de vida ocidental. Portanto, é preciso derrubar os governos moderados e substituí-los por regimes baseados na sharia - a lei islâmica. São essas ideias que inspiram terroristas como os da Al Qaeda.

O fracasso do Estado

Mas o radical islâmico que joga um avião contra um prédio não acredita no mesmo Deus que um muçulmano moderado? Como o Deus de um pode condenar esse crime, se o Deus do outro promete transformá-lo em herói? Aí é que está: o Deus é o mesmo, mas as interpretações de sua mensagem são distintas. O suicídio, por exemplo, sempre foi pecado na tradição islâmica. Hoje, no entanto, é interpretado como martírio pelos fundamentalistas - e usado como arma por terroristas.

Pomos da discórdia

Um resumo de 4 conflitos recentes, sanguinários e de fundo religioso

CONFLITO - Judeus x Muçulmano

ONDE - Oriente Médio

QUANDO - Em curso desde 1947

RESULTADO - Mais de 7,5 mil mortos de 2000 para ca

O conflito começou como disputa territorial, por causa da criação do Estado de Israel, mas assumiu caráter religioso. Hoje, fundamentalistas judeus e islâmicos são o maior entrave para a paz. Um não aceita a existência do outro e quer varrer o oponente do mapa para sempre.

CONFLITO - Hindus x Muçulmano

ONDE - Índia e Paquistão

QUANDO - Fim da década de 1950

RESULTADO - 500 mil morto

A violência eclodiu com o fim do domínio colonial britânico sobre a Índia, em 1947. Os muçulmanos se negaram a integrar um país com os hindus, foram à guerra e criaram o Paquistão. De lá para ca, outros dois conflitos já ocorreram, por causa da disputa pela região da Caxemira.

CONFLITO - Católicos x Protestante

ONDE - Irlanda do Norte

QUANDO - Décadas de 1960 a 1980

RESULTADO - Quase 4 mil morto

A rixa histórica entre cristãos irlandeses descambou para a violência embalada por um componente político: de um lado, a maioria protestante (chamada unionista) quer continuar ligada ao Reino Unido; do outro, a minoria católica (nacionalista) almeja pôr fim ao domínio britânico.

CONFLITO - Cristãos x Muçulmano

ONDE - Bálcã

QUANDO - Décadas de 1980 e 1990

RESULTADO - Mais de 100 mil morto

Durante décadas, o ditador comunista Josip Tito manteve as províncias da Iugoslávia unidas à força. Com sua morte, em 1980, o nacionalismo religioso explodiu numa espécie de luta de todos contra todos - incluindo sérvios (ortodoxos), bósnios (muçulmanos) e croatas (católicos).

Para saber mais sobre o assunto:

• Em Nome de Deus ( por Karen Armstrong, Companhia das Letras, 2001 )

Fonte: Super Interessante (2009 – Ed. 263ª por Eduardo Szklarz)

Comentários: Elane F. De Souza

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64 Comentários

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Colho do seu texto uma passagem que, a começar pelo título, expõe o sentimento intolerante com a fé alheia, e dou a ele a devida refutação, ei-lo:

"Um dos fatores que mais põem fim à Democracia ou a Liberdade de expressão é o ingresso da Religião no Estado, por outro lado a tentativa de sua retirada é dolorosa, massacrante e até mortal. Portanto, o melhor é mantê-la em seu devido lugar – longe da política".

O estado laico brasileiro permite o entrelaçamento entre política e religião. A afirmação de que é melhor manter a religião longe da política é repelida pelo estado democrático de direito. Na grande maioria o estado laico é um estado democrático, aquele que não escolheu religião oficial nenhuma, mas permitiu que qualquer religião pudesse se imiscuir nos interesses da sociedade, inclusive na atividade política.

Quem defende o afastamento entre política e religião precisa refletir sobre o papel representativo da democracia. Ele permite isso. Quando setores organizado da sociedade resolvem eleger seus representantes para defesa de seus interesse no legislativo, portanto na política, isso reflete o papel democrático do estado laico. Da mesma forma os religiosos podem se organizar e eleger seus representantes políticos para defesa de seus interesses no parlamento, ainda que esses interesses se restrinjam a valores morais de sua religião. Portanto, repilo a afirmação de que é melhor manter a religião longe da política. Não é.

Para melhor compreendermos essa defesa da religião na política, trago à baila o julgamento das células-tronco, ocorrido no Supremo Tribunal Federal em 2010.
Naquela assentada, o relator da ADIN permitiu o ingresso no feito, na condição de amicus curiae, de várias entidades da sociedade, dentre elas algumas entidades religiosas. Ora, se o judiciário que, pelo menos teoricamente, goza de imparcialidade, permitiu a sustentação oral de um representante de uma entidade religiosa com vista a influenciar no resultado do julgamento, porque no legislativo, que é a casa do povo, não se pode permitir a atividade política dos religiosos com fim à proteção dos seus interesses? Somente a intolerância religiosa é que pode tolher a manifestação dos religiosos no parlamento, e portanto, na política. Nesse sentido, a religião não deve mesmo ficar de fora da política. Portanto, a religião se imiscuindo na atividade política do estado não põe fim, nem de longe, à democracia ou a liberdade de expressão, pois se trata de uma manifestação permitida pelo estado democrático de direito.

É preciso ressaltar que o entrelaçamento de política e religião, que ora defendo, deve-se dar num estado LAICO democrático, caso contrário, repetir-se-á os casos históricos tenebrosos citados pelo texto envolvendo política e religião que, diga-se de passagem, foram atrocidades que acontecerem em um estado que não era laico.

Por fim, é preciso ressaltar, que há uma linha muito tênue entre a defesa que se faz da laicidade estatal e a intolerância religiosa, e poucos textos sabem lidar com essa diferença. A laicidade do estado não significa a exaltação da ideologia dos ateus, mas tão somente a permissão de diversidades religiosas como estruturas que gozam da proteção do estado laico brasileiro. continuar lendo

Paul Cliver,

Com todo respeito, preciso apontar que você está errado na maior parte do que disse.

A sua interpretação do que é estado laico não condiz com o que a expressão de fato significa.
O estado laico não permite o "entrelaçamento" da religião com a política. Ao contrário, a laicidade determina justamente a não interferência de um com o outro.
Em resumo, o estado não opina em assuntos de religião e a religião não opina em assuntos de estado.

Isso não significa desrespeito à democracia nem impede a existência de políticos, governantes ou juízes que participem de alguma religião.
Mas eles não devem utilizar seus dogmas religiosos ao exercer seus mandatos. Essa é a diferença que você não está observando.
Veja um exemplo: seria democrático que houvesse uma "bancada do funk carioca" no congresso. Representantes e mandatários daqueles que tem o funk e o hip-hop como cultura.
(Veja que não estou fazendo juízo dos que gostam da música e cultura funk, estou apenas usando como exemplo).
Algum problema em existir uma bancada como essa? Não.
Mas poderia essa bancada legislar com base nos princípios morais e sociais da "comunidade do funk"?
Poderia essa bancada legislar, por exemplo, obrigando que todas as rádios reservassem um horário para tocar apenas aquele tipo de música? Poderiam criar leis para que todo o cidadão fosse obrigado a usar boné?
Perceba que o exemplo parece ridículo, mas é válido. Espero que ele mostre a você que os parlamentares não foram eleitos para legislar em favor dos "princípios morais" dos seus seguidores (fiéis).
Representá-los, nesse contexto, não é isso.
Seria, por exemplo, que esses parlamentares fossem a voz dos seus eleitores caso houvesse, digamos, uma tentativa de outros grupos para tolher-lhes algum direito religioso.
Isso seria uma representação legítima, correta e democrática. Mas não é correto, nem justo e muito menos democrático, tentar impor a toda uma sociedade (país) regras nascidas de dogmas religiosos que não são compartilhados por todos.

Em resumo, no estado laico republicano, a religião não pode exercer qualquer poder, seja executivo, judiciário ou político.
O que se critica em relação aos religiosos presentes hoje no congresso é justamente essa intromissão dos assuntos religiosos no Estado.
O perigo apontado no artigo é justamente esse "entrelaçamento" que você defende.

Por fim, a sua última frase merece destaque:
"A laicidade do estado não significa a exaltação da ideologia dos ateus, mas tão somente a permissão de diversidades religiosas como estruturas que gozam da proteção do estado laico brasileiro."
Ateísmo NÃO é um ideologia! Não existe absolutamente nenhuma bandeira ou reivindicação política que você possa atribuir aos ateus!
E o estado laico NÃO protege a religião, como você pensa. Ao contrário, protege o estado.
Entenda que poderia até mesmo existir um estado laico que não admitisse a liberdade de religião. São coisas diferentes.
A liberdade de religião existe no Brasil porque é um Estado democrático.
A religião não se mistura com o Estado brasileiro, porque é um Estado laico. continuar lendo

Sr. John Doe,

Obrigado pelo comentário ao texto que escrevi. O debate alimenta a nossa cultura.

No final do meu texto, advirto os leitores da seguinte forma: "Por fim, é preciso ressaltar, que há uma linha muito tênue entre a defesa que se faz da laicidade estatal e a intolerância religiosa, e poucos textos sabem lidar com essa diferença".

Quando você diz que o estado não opina em assunto de religião e religião não opina em assunto de estado, estar-se a declarar uma orientação pouco democrática e por isso mesmo uma quebra daquela linha tênue de que afirmei acima.

É bem verdade que a laicidade estatal obsta a imposição de religião a quem quer que seja, mas nunca poderá tolher o entrelaçamento entre política e religião. No legislativo a atuação da bancada evangélica é reflexo, como já disse, do papel representativo da democracia. Se o Estado não permitisse a atuação dos representantes de parcela da comunidade religiosa não se estaria a tratar de um estado laico democrático. Assim, se você é ateu, eleja um representante pra defender sua ideologia. A discussão que se travará no parlamento com os representantes desses dois grupos, ou mais, fará um bem maior ao país. Vencerá o que tem maior poder de barganha. Reclamar contra isso é reclamar da estrutura política que o estado laico adotou para si. Portanto, a constituição do país permite que o equilíbrio da casa legislativa seja construído por você através do voto. É por isso que a essência do parlamento é a possibilidade de existência de representantes de vários grupos, sejam eles da bancada evangélica, da bancada dos ruralista, da bancada gay e até mesmo da bancada da da bala. Cada qual defendendo também interesses do seu grupo, além dos interesses da nação.

Lendo seu primoroso texto percebo que você arroga para a laicidade estatal um caráter que nem mesmo a Constituição do país deu aos direitos fundamentais: o caráter absoluto. A laicidade estatal comporta relativizações, ela não se reveste de caráter absoluto.
Se o estado brasileiro tivesse uma laicidade estatal com caráter absoluto jamais poderia permitir que algumas unidades de sua federação figurasse com nome de santos, privilegiando os dogmas consagrados da igreja católica. Assim, São Paulo, Santa Cantaria, Espírito Santo e tantas outras cidade brasileiras não poderia jamais eleger essas entidades católicas como nome oficial. Também, não se poderia permitir que o Estado do Rio de Janeiro mantivesse em área pública - o parque da tijuca - um monumento que lembra muito bem o personagem principal da religião cristã, o Cristo Redentor. Veja, portanto, o caráter relativo da laicidade estatal.

Por fim, esse caráter relativo é que dá permissão ao entrelaçamento entre política e religião no parlamento. O resultado desse entrelaçamento será algo advindo dos vários debates ocorridos, da capacidade do grupo de influir no debate, chamando a população para que se manifeste, do poder de barganha entre um e outro, enfim, o resultado tem de ser algo que não afronte a democracia e tão pouco a essência da laicidade estatal. continuar lendo

Caro Paul Cliver,

Sobre "ideologia ateísta", apenas repito que ela não existe. Sugiro informar-se sobre o que é ateísmo.

Quanto ao estado laico, você continua fazendo muita confusão.
A liberdade de batizar cidades com nomes de santos não tem nada, absolutamente nada a ver com "laicidade relativa", como você coloca.
Muito ao contrário!
Além de (muitas) cidades com nomes indígenas, existem ruas e praças espalhadas pelo Brasil cujo nome homenageia santos cristãos, jesuítas, muçulmanos, judeus, generais, pensadores, ateus (como Karl Marks, por exemplo).

Você está vendo as coisas ao contrário.
Não é pelo estado ser "relativamente" laico que os símbolos religiosos são permitidos.
É o oposto.
Justamente por o estado ser totalmente laico e democrático que NÃO SÃO PROIBIDOS os símbolos religiosos.
Entende a diferença? Pode parecer confuso, mas é uma diferença importante.

Democracia não se trata de "poder de barganha" e muito menos de "grupos vencedores".
Ao contrário!
A democracia pretende justamente defender os "grupos perdedores", ou seja, as minorias, das imposições pretendidas pelas maiorias.
As suas colocações me fazem lembrar aquele tipo de discurso que diz: "... olha, o Brasil é de maioria cristã, então o país vai ser como nós queremos, quem não gostar que se mude!"
Isso, caro Paul Cliver, não é democracia.

Abraço. continuar lendo

Sr. John Doe,

Não há confusão no texto que escrevi, há sim uma gama de argumentos que se fundem no sentido de comprovar que o estado laico permite o entrelaçamento de política e religião, como manifestação do regime democrático que temos. O contrário disso seria aquilo que a Constituição da República repele de forma veementemente: a intolerância religiosa.

Sobre o fato de eu utilizar o termo ideologia para definir a defesa das ideias dos ateus, discordo plenamente quando diz que eles, os ateus, não tem uma ideologia. Eles têm sim. O simples fato de não crer na existência de um Deus pessoal por si só já configura uma ideologia. A partir dessa ideia os ateus se unem e propagam sua ideologia sobre o fundamento da inexistência de Deus.

Tentarei explicar o meu texto de forma mais clara possível, essa explicação vai na linha do que defendi até agora.

Pois bem, você diz o seguinte:

"Não é pelo estado ser"relativamente"laico que os símbolos religiosos são permitidos.
É o oposto.
Justamente por o estado ser totalmente laico e democrático que NÃO SÃO PROIBIDOS os símbolos religiosos.
Entende a diferença? Pode parecer confuso, mas é uma diferença importante".

Aqui parece que você não entendeu o que eu quis dizer. Na verdade os símbolos religiosos são permitidos porque a laicidade estatal não tem um caráter absoluto, porque se o tivesse, todas aqueles crucifixos que existem nas repartições públicas não poderiam ali estar. O Ministério Público já questionou esse fato, alegando que, sendo o estado brasileiro um estado laico, a administração não poderia permitir em suas repartições a presença de quaisquer símbolos religiosos. O judiciário não acatou a tese do MP. A retirada de símbolos religiosos não é a manifestação do estado laico. O estado laico é simplesmente o estado que não tem um religião oficial. Por isso mesmo não pode privilegiar uma em detrimento da outra. O argumento sobre as cidades que possuem nomes de santo vai no sentido de que a laicidade estatal não goza do caráter absoluto do qual os ateus se utilizam de forma indireta, alegando que nada no Estado pode fazer referencia à religião.

Continuando, você argumenta que:

"Democracia não se trata de"poder de barganha"e muito menos de"grupos vencedores".
Ao contrário!
A democracia pretende justamente defender os"grupos perdedores", ou seja, as minorias, das imposições pretendidas pelas maiorias.
As suas colocações me fazem lembrar aquele tipo de discurso que diz:"... olha, o Brasil é de maioria cristã, então o país vai ser como nós queremos, quem não gostar que se mude!"
Isso, caro Paul Cliver, não é democracia"

Mais uma vez você faz confusão com o fundamento do meu argumento. Utilizei-me do conceito de democracia para demonstrar o papel representativo desse regime político, onde os cidadãos participam através de seus representantes ou diretamente da vida política do estado. É dizer que, se determinado grupo da sociedade deseja participar da vida política do estado por meio de seus representantes, os religiosos também podem, repito, participar, por meio de seus representantes - muitas vezes pastores, bispos, lideres religiosos - e tentar influenciar nas decisões do parlamento, por meio de suas ideologias religiosas. Vide o exemplo citado do julgamento das células troncos.
Por outro lado, sr. John Doe, o papel representativo da democracia opera no parlamento a existência de grupos vencedores e perdedores. Isso infelizmente reflete na vida de toda a sociedade. Por isso argumentei que no legislativo o poder de barganha fala mais alto na hora de votação de matérias tão caras ao país. Porque até hoje não se liberou, por meio do legislativo, o direito de a mulher abortar? Exatamente por força dos grupos que se fazem representar no parlamento. Há aqueles que defendem a ideia do aborto e aqueles que a recrimina. Até agora nesse discussão é possível observar quem tá levando a melhor: o grupo contrário ao aborto.

Por fim, de tudo o que escrevi , reitero virgula por virgula, ponto por ponto, fundamento por fundamento, corroborando a ideia de que no estado laico brasileiro a democracia permite o entrelaçamento de política e religião, afastando o argumento que está no título do texto base de toda essa discussão, qual seja, o de que o Estado fracassa onde a religião entra.

Com respeito,

Paul Cliver. continuar lendo

Está de parabéns este texto.Percebo que algumas mensagem estão sendo divulgadas para o bem da humanidade.Quanto ao livro da autora Karen Armstrong, relata o quanto é perigoso o fundamentalismo para o progresso da humanidade.Tenho uma ligeira impressão que existe uma bancada evangélica tentando se fortalecer e impor suas ideias.Tenho medo! continuar lendo

Boa tarde meu amigo José Francisco, tudo bem?
Você tem razão....e faz é tempo né, que estão tentando transformar o Estado Brasileiro em um "braço da Igreja"...., se deixarmos isso acontecer estaremos, literalmente, ferrados!
Espero que as pessoas tenham discernimento necessário para NÃO deixar isso acontecer - NÃO votar neles para nos representar é um passo importantíssimo para seguir sendo, pelo menos em tese, um estado laico!
Abraço e sucesso por aí, meu caro!
Até mais! continuar lendo

Com toda sinceridade, meu maior medo seria os pastores que além das redes de TV, Rádio, Redes sociais, consegue apresentar, suas preferências políticas e partidárias como forma de garantir suas ações e benefícios.Vejam o que ocorre no congresso atual... continuar lendo

Gosto de seus textos. Mas se formos analisar, apesar dos discursos, a bancada evangélica é inofensiva. O objetivo deles é conquistar votos, nem mesmo eles acreditam no que eles falam. continuar lendo

Faz tempo que tentam transformar o Brasil em uma zona a céu aberto. Basta ver as ideias de alguns políticos e operadores do Direito.

Pelos comentários, parece que se o Brasil virasse "braço da igreja" seria o caos. Ou seja, passa-se a ideia de que vivemos em um país maravilhoso, sem violência, corrupção, etc.

Não sou evangélico, mas me sinto ofendido quando leio ataques a essas pessoas, como se fossem uma horda de pobres ignorantes. Acho que deve haver mais respeito. continuar lendo

Vou tentar dissuadir alguns comentários.Primeiro que a á Religião Católica é contra o Aborto e controle de natalidade.(Caos social) segundo.algumas religiões cobram dízimo através da persuasão (Alguns não nem o que se alimentar) Terceiro; Se articulam e se envolvem com políticos com intuito de promover a boa nova.Gostaria que entendesse que se não criarmos escolas científicas, ensinamento das ciências biológicas e naturais, promovendo o entendimento e solidariedade entre as diferentes classes sociais.Riqueza somente de conhecimento e quando dividida e distribuída, estaremos dando um passo enorme as diferenças sociais. continuar lendo

Boa noite.
Caro amigos percebo que o texto mostra um ponto de vista, que concordo no que tange a fundamentalismo, pois todos o que agem desta forma são extremamente perigosos, estados governados por ateus dizimaram milhões de pessoas. Quem frequenta algum tipo de denominação religiosa tem seus pontos de vista, e querem defendê-lo, não é justo?, ninguém pode ser excluído da vida política. Se você não concorda com denominações religiosas tudo bem, agora querer que as pessoas não tenham o direito de eleger pessoas em quem confiam é algo no mínimo fundamentalista. continuar lendo

Com todo respeito, jesus cristo sempre pregou solidariedade, humildade, honestidade, moralidade e amor para com o próximo, sendo que é impossível se desvincular o Estado de religião, haja vista que um de seus elementos é a população com suas crenças e particularidades. Há ainda quem confunda Estado Laico com Estado Ateu, mas essa é outra discussão. continuar lendo

O Estado Laico defende a possibilidade de se ter qualquer religião, ou nenhuma. Não se trata de Estado Laico ou Ateu, por favor não confunda as coisas. O Estado deve ser NEUTRO, tanto com relação à religião quanto ao ateísmo. continuar lendo

Não seria "A religião entra quando o Estado fracassa?". continuar lendo

Aí no caso, qual seria essa religião? continuar lendo