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19 de Abril de 2024

"Os inimigos do Papa" - O Calvário dos Pontífices!

Texto na íntegra Istoé Independente por Débora Crivellaro

“... De todas as reformas contempladas no primeiro ano de seu pontificado, poucas saíram do papel. Isso, infelizmente, significa uma coisa: o plano de Bergoglio de afastar os mercadores do templo continua não realizado três anos após sua eleição. Essa situação é uma fonte de descontentamento para muitas pessoas. Mais e mais cardeais estão criticando o papa, alguns abertamente...”

Esse trecho do livro “Via Crucis”, do jornalista italiano Gianlugi Nuzzi, lançado na quinta-feira 5 na Europa, escancarou o que uma série de incidentes sinalizaram nos últimos meses: o papa Francisco não tem conseguido combater os graves pecados da Igreja Católica. O pontífice argentino que conquistou o mundo com seu carisma, gestos corajosos e sorriso persistente, foi eleito em março de 2013 com a missão de moralizar as finanças do Banco do Vaticano, expurgar os religiosos que cometiam excessos administrativos e financeiros, acabar de uma vez por todas com a intermináveis e nem um pouco católicas intrigas da Cúria Romana e curar a chaga do abuso sexual cometido por religiosos católicos. Mas avançou muito pouco na dissolução da problemática rede que levou à renúncia de seu antecessor, Bento XVI. Para piorar o quadro, apesar de gozar da simpatia e admiração da maioria dos católicos – e até dos não crentes – Bergoglio parece estar cada vez mais sozinho no ambiente de poder. E, mais do que isso, coleciona grupos antipáticos a ele. O primeiro a se declarar publicamente contrário são os ultraconservadores. Há também os burocratas. E, agora, sabe-se, a alta hierarquia corrupta, que há décadas fazia mau uso do dinheiro, em benefício próprio. Junto com “Via Crucis”, chega às livrarias européis outro livro que fala sobre isso, sob o título “Avareza”. Ambos tratam das finanças católicas e foram elaborados a partir de documentos fornecidos por dois altos funcionários da prefeitura de assuntos econômicos da Santa Sé: o padre espanhol Lucio Vallejo Balda, ligado a Opus Dei, e Francesca Chaouqui, uma especialista italiana em redes de comunicação. Os dois foram presos no início da semana passada (Francesca já está solta). Mas este episódio, já batizado Vatileaks 2 e bem mais grave que o primeiro, mostra que os inimigos estão muito próximos, para desgosto do bem-intencionado pontífice.

Os livros chegam em um momento muito delicado para o catolicismo, com Francisco enfrentando resistência para mudar a gestão dos recursos financeiros da Igreja. “Via Crucis” foi escrito pelo jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, que em 2012 publicou “Sua Santidade: as cartas secretas de Bentos XVI”, sobre o ruidoso episódio envolvendo o mordomo Paolo Gabriele. A obra descreve como cardeais vivem em propriedades elegantes e espaçosas, muitas vezes de graça, andam de classe executiva e gastam milhares de euros que deveriam ser destinados à caridade com eles mesmos. “Avareza”, do também jornalista Emiliano Fittipaldi, detalha por meio de documentos originais (cerca de 20 páginas do livro são reproduções fotográficas de arquivos secretos, como atas, orçamentos e notificações) como operações comerciais no interior dos muros do Vaticano – postos de gasolina, farmácia, lojas de tabaco e supermercado - geraram dezenas de milhões de euros em receitas com a venda de produtos a preços com desconto, devido a isenções fiscais. Eis um trecho, sobre os negócios com cigarro: “... A ‘tabacaria de Deus’, explicam analistas da Ernest & Young, é a segunda mais importante fonte de receita do departamento de serviços econômicos do Vaticano...” Segundo o vaticanista americano John Allen Jr, grande parte do que está denunciado nas obras já era sabido, principalmente por quem vivencia diariamente a Santa Sé. “O grande mérito desses livros é que eles colocaram nomes e números concretos sobre o que era só impressão”, afirma. Ambos, Nuzzi e Fittipaldi tiveram acesso a um material confidencial notável supostamente reservado ao pontífice.

Até o polêmico ex-secretário de Estado Tarcisio Bertone voltou ao centro da controvérsia, como no primeiro Vatileaks. “Avareza”, de Fittipaldi explica como a Fundação Menino Jesus, criada para ajuda o hospital pediátrico administrado pelo Vaticano, foi usada para pagar a reforma da famosa cobertura de 700 metros quadrados do ex-todo poderoso. “A fundação pagou uma conta de 200 mil euros”, diz o jornalista. Da Menino Jesus também saíram recursos para alugar, por exemplo, um helicóptero pela soma de 23,8 mil euros. “É ofensivo, outra das muitas acusações injustas e falsas que recebi ao longo dos anos”, defendeu-se o cardeal Bertone. O livro também menciona deslizes de outros integrantes da atual alta cúpula, como o cardeal George Pell, prefeito da Secretaria Econômica, que teria “desviado para seus amigos 500 mil euros em seis meses.” Fittipaldi diz ter tido acesso a documentos destinados ao cardeal Pell que “pela primeira vez resume o verdadeiro valor de todos os imóveis das instituições vaticanas, avaliados em 160 milhões de euros. O autor, porém, calcula que o montante dessas propriedades pode chegar a 4 bilhões de euros.

Outro escândalo que sacode as colunas da Praça São Pedro e saem das páginas de Fittipaldi dizem respeito à venda de canonizações. “Há alguns casos nos quais os parentes das pessoas que morreram e que estão à espera de ser beatificadas e canonizadas podem pagar até 500 mil euros”, disse. Neste caso, um outro nome de peso está envolvido: o arcebispo Georg Gänswein, secretário de Bento XVI. Velhos personagens de um período obscuro que voltam à cena, para mostrar que décadas de corrupção, desvios e vícios dentro de uma instituição poderosa como a Igreja Católica, não acabam apenas com a meia-dúzia de gestos de um bom papa. Resta saber como Bergoglio irá reagir.


Fonte: na íntegra por Istoé Independente, iden Foto Por Débora Crivellaro (debora@istoe.com.br)

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